terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Na Tela: "Ele Está de Volta" um filme preocupante

Avaliação: ☻☻☻☻☻(4,5/5)                                 1h52min                                      Netflix

Estamos em 2017, há quase 72 anos a segunda guerra mundial chegou ao fim. Há quase 72 anos é ensinado nas escolas do mundo todo sobre ela e sobre uma das suas principais causas, o nazismo, sobre o seu discurso radical, seus terríveis objetivos e quanto ele foi ruim para a humanidade. Desde 1999 vemos um grupo fazer o mesmo tipo de discurso radical e entrar em ação, matar pessoas e transformar a vida de outras em um inferno em nome de sua causa, a maioria de nós do ocidente ficamos aterrorizados que o ser humano possa fazer algo assim, não conseguimos entender o que faz alguns de nós segui-los, dizemos que o único motivo plausível seria uma lavagem cerebral. Agora, o ano é 2017, o ano em que irá  assumir a presidência da maior potencia do mundo um candidato que fez uma campanha com o discurso que poderia ter saído da Alemanha de 1930, que nos foi ensinado que JAMAIS deveríamos seguir, mas que foi eleito democraticamente.

Esses acontecimentos citados a cima fazem com que Look Who's Back (ou Ele Está de Volta em português) seja uma critica irretocável da sociedade atual. Nele vemos Hitler voltar a vida no presente, ele não reconhece a Alemanha que deixou para trás, anda nas ruas e ninguém acredita que é ele mesmo, todos pensam que é um ator. Ok, até aí pensamos que será um filme de comédia, piada com o Hitler, faze-lo de idiota, foi nesse filme que eu cliquei para assistir, e ele é isso até o momento em que o personagem deixa suas roupas na lavanderia, a partir daí começa a critica e a situação fica feia.

Após o acontecimento citado, Hitler passa a viajar pelo país, andando por lugares públicos, onde as pessoas pediam selfies com ele, e falando com os alemães sobre os seus discursos já conhecidos, os quais as pessoas APOIAVAM. Não, você não leu errado, os alemães com quem ele falava apoiavam os seus discursos de ódio aos imigrantes, concordavam com ele, alguns até mesmo fizeram as suas próprias afirmações, como que os africanos tem o QI menor, outro até chegou a dizer que era necessário reativar os campos de concentração e, claro, tenho que mencionar o homem que apanhou de alemães característicos só porque criticou a fantasia . Você pode achar que isso é um exagero da minha parte, afinal é só um filme, pode até retratar a vida real, mas são atores. É aí que está o grande diferencial do filme, muitas dessas cenas na rua, conversando com as pessoas, foram filmadas com câmeras escondidas, eram somente cidadãos que tinham aquela opinião.


Com certeza essa não é a reação que eu esperava do povo arrependido e traumatizado, após ter sido iludido pelo ditador que eles veem como o demônio culpado por todas as mazelas da segunda grande guerra, mas é exatamente a reação que eu esperaria dos eleitores do futuro presidente dos EUA. E se você substituir a crença de que só quem nasceu naquele território e que não tenha outra etnia como origem tem os direitos de um ser humanos e de ficar nele enquanto os outros são como peste, pela crença de que só quem segue a sua religião tem os direitos de um ser humano, de existir na sua região enquanto as outras crenças são imundas, você tem exatamente o pensamento do grupo extremista citado no inicio do texto.

Apesar de esse ser o ápice da realidade exposta no filme, a critica não  para por aí, depois dessa turnê do Hitler, ele ganha um programa de TV onde fala as suas ideias e todos acham graça, não acham nenhum pouco errado, consideram somente piada, as pessoas somente passam a achar que algo está errado quando vaza um vídeo dele atirando em um cachorro sem motivo algum. Claramente um retrato da sociedade atual, onde o ser humano se importa mais com o animal de estimação do que com os seus iguais (e pode me incluir nessa critica, não serei hipócrita de dizer que não sou desse jeito). Porém, tempo depois ele escreve seu segundo livro, contando o que lhe aconteceu, exatamente a história que acompanhamos no filme, e  na era em que a notícia chega rápido, o assunto de 15 minutos atrás torna-se velho e é esquecido, ele torna-se um best-seller e após isso torna-se um filme.


Percebe-se uma repetição do passado (seja antigo do protagonista ou nosso recente) na jornada do protagonista, alguém com ideais radicais fez os seus discursos, riram deles e após uma leve indignação  começaram a compra-los, em forma de livro no filme e no passado antigo. Isso, segundo palavras do próprio protagonista pois se ele é "um monstro, então é bom você não esquecer daqueles que também elegeram esse monstro, todos eram monstros, todos eram pessoas normais, que decidiram escolher uma pessoa diferente das outras para confiar o destino do país, quer fazer o que? Impedir as eleições, você nunca se perguntou por que as pessoas me seguem, é porque no fundo elas são como eu, você não vai se livrar de mim, eu sou parte de você, de todos".

Talvez toda essa critica velada que eu falei a cima não tenha sido exatamente o objetivo do filme, e do livro, já que ele foi lançado em 2012 e o filme em 2015, talvez a única critica velada do filme mesmo seja que é no caos que esse tipo de governo consegue se instalar, do jeito que nos foi mostrado, mas aconteceu de eu assistir o filme justamente quando exemplos disso estão bem frescos na memória mundial.

O filme merecia as cinco estrelas só pelo seu enredo, sem nem falar nas referencias feitas a cenas do ditador em outros filmes e a acontecimentos atuais, com criticas diretas, mas eu não consegui dá-las pela sensação ruim de impotência e angustia que o filme me causou durante boa parte de sua exibição, sensação que talvez seja a prova de quão bom o filme é, mas que jamais pretendo repetir o revendo, e essa classificação guardo para obras que pretendo rever.

Agora, fecho essa critica com talvez a ultima e mais irônica frase do filme: "Temos 40 anos de história nas costas, nossas crianças estão cansadas de saber o que foi o terceiro reinado. Algo como o Nazismo jamais se repetira".
- Kah

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